Chile quer atrair investimentos brasileiros e integrar cadeias produtivas da América do Sul

Comex do Brasil

Brasília -  A falta de um maior conhecimento sobre a economia chilena e das oportunidades que o país oferece para terceiros mercados é um dos maiores responsáveis pelo baixo volume dos investimentos realizados pelas empresas brasileiras no país vizinho, mas esse panorama poderá mudar após a assinatura, na semana passada, em Santiago do Chile, de um Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI) entre os dois países. A afirmação foi feita ao Comexdobrasil.com pelo  embaixador chileno Jaime Gazmuri Mujica, ao falar sobre as relações econômicas e comerciais entre seu país e o Brasil.


 


E nada melhor que os números para atestar a veracidade das afirmações feitas pelo diplomata: enquanto o estoque dos investimentos chilenos no Brasil atinge a cifra de US$ 26 bilhões, o volume total investido pelas empresas brasileiras no Chile soma apenas US$ 4 bilhões. De cada US$ 10 investidos pelo Chile no exterior, US$  4 têm como destino o Brasil. Outro dado relevante: os investimentos chilenos no Brasil superam as aplicações feitas por economias muito mais fortes, como a Itália (US$ 18 bilhões) e a França (US$ 20 bilhões), segundo informa o embaixador Jaime Gazmuri Mujica.


 


Chile quer atrair investimentos brasileiros e integrar cadeias produtivas da América do Sul (3)Apesar de estar consciente de que os investimentos brasileiros em seu país não corresponderem à condição desfrutada pelo Brasil como oitava maior economia do mundo, o embaixador chileno mostra-se otimista quanto à possibilidade desse cenário vir a ser modificado em curto e médio prazos: “o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) visitou o Chile no último dia 23 e na ocasião foi firmado o ACFI, o primeiro acordo que assinamos com o Brasil que não tem uma característia meramente comercial. Brasil e Chile já assinaram uma série de acordos e entre os dois países existe o livre comércio. Faltava um documento específico para tratar da proteção e promoção dos investimentos bilaterais”.


 


Mas o diplomata chileno acredita que os dois países podem avançar nos esforços em busca da ampliação dos fluxos de comércio e de parceria bilaterais: “temos interesse em negociar um acordo que vá além do comércio e durante a visita do ministro Armando Monteiro concordamos em iniciar negociações visando assinar no início de 2016 um acordo sobre compras públicas, que possibilitará a abertura dos mercados e conferindo tratamento isonômico entre as empresas brasileiras e chilenas. Além disso,  mais adiante pretendemos lançar as bases da negociação de um protocolo sobre o comércio de serviços”.


 


O embaixador sublinha que as relações entre o Chile e o Mercosul se desenvolvem normalmente, amparadas pelo Acordo de Complementação Econômica número 35, que promoveu a abertura tarifária entre o Brasil e o Chile. Segundo ele, “esse acordo, firmado há quase 20 anos, tem funcionado muito bem, sem a incidência de qualquer tarifa sobre os produtos comercializados entre si pelos dois paises. Entretanto, o comércio bilateral chileno-brasileiro é mais ativo que o comércio com o Mercosul, pois nas trocas com a Argentina existem cotas para certos produtos e no comércio e com o Chile não”.


 


Em termos estritamente comerciais, o Brasil é o principal parceiro comercial do Chile na América Latina e 6,6% de tudo o que o Chile exporta têm o Brasil como destino. Do outro lado, para o Brasil, o Chile é o segundo maior parceiro do Brasil na América do Sul, atrás apenas da Argentina.


 


Em 2014, o fluxo comercial entre os dois países totalizou US$ 8,999 bilhões, com exportações brasileiras de US$ 4,984 bilhões e vendas chilenas no montante de US$  4,014 bilhões, proporcionando ao Brasil um superávit de US$ 970 milhões.


 


E ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando as exportações brasileiras para o Chile cresceram 11,16%, de janeiro a outubro deste ano (comparativamente com igual período de 2014), as exportações do Brasil tiveram uma queda expressiva de 20,78% para US$ 3,328 bilhões. Por outro lado, as exportações chilenas também registram baixa, ainda que menos acentuada, de 14,04% e totalizaram US$ 2,855 bilhões. Dessa forma, nos dez primeiros meses do ano a balança comercial entre os dois países resultou em um superávit de US$ 473 milhões a favor do Brasil.


 


Chile quer atrair investimentos brasileiros e integrar cadeias produtivas da América do SulNa opinião do embaixador Jaime Gazmuri Mujica, o fluxo de comércio entre os dois países ainda tem muito a crescer e para que isso aconteça é importante que haja um aumento dos investimentos brasileiros no Chile e um esforço coordenado visando aprofundar as cadeias produtivas dos dois países: “temos que pensar na integração das cadeias produtivas de toda a América Latina. Para isso é preciso implementar políticas industriais e estabelecer Parcerias Público Privadas muito ativas. Se queremos deixar de sermos apenas exportadores de commodities, temos que pensar numa economia regional com suas cadeias produtivas integradas”.


 


De acordo com o embaixador, “o Chile pode ser uma importante plataforma para os produtos brasileiros em terceiros mercados. Temos acordos comerciais com as maiores economias do mundo, como a União Europeia, os Estados Unidos, a Aliança do Pacífico e, mais recentemente, com a Parceria Transpacífico. Empresas brasileiras podem produzir no Chile e exportar para terceiros mercados, aproveitando os portos chilenos como janelas para o Pacífico. A única exigência é que esses produtos contenham componentes chilenos em seu processo de produção”.


 


Após afirmar que “com a crise, a economia brasileira vai ter que olhar para os mercados externos”, o embaixador ressalta que o Chile tem tudo para constituir um parceiro privilegiado do Brasil em suas ações de comércio exterior: “temos uma política que chamamos de convergência na adversidade e que visa aproximar a Aliança do Pacífico do Mercosul. Durante a visita do ministro Armando Monteiro falamos da necessidade de criação de uma agenda prática e concreta entre os dois blocos visando as áreas da logística, infraestrutura, facilitação de comércio e do estabelecimento de normas comuns para as áreas sanitária e fitossanitária, entre outras”.


 


Além disso, o dplomata chileno destaca que  “o Chile também pode constituir uma importante via de acesso ao gigantesco mercados composto pelos países da Parceria Transpacífico. Há algum tempo o nosso pais tem tratados comerciais com quase todos os membros do bloco, à exceção do Japão e do Vietnã e com a criação do novo bloco, nosso comércio com esses dois países pode crescer muito, abrindo-se também espaços para as empresas brasileiras que estejam presentes e produzindo seus produtos no Chile com a participação de empresas chilenas e seus componentes”.


 


Jaime Gazmuri Mujica defende também o fortalecimento do comércio intrarregional e o faz lamentando que “apenas 20% do comércio exterior da América o Sul corresponde às trocas intra-bloco, envolvendo os países da região. Esse é um percentual muito baixo. Especialmente quando comparado com o comércio entre os países-membros da União Europeia, que chega a 70% de todo o comércio realizado pelos 28 países que integram a UE”.


 


O embaixador chileno tem um argumento irrefutável para defender o aumento das trocas comrciais entre os países sul-americanos: “acima de tudo, é importante destacar que o comércio intrarregional tem uma característica distinta: é um  intercâmbio com uma participação expressiva de bens industriais, de maior valor agregado”.


 


Com desenvoltura, segurança e demonstrando grande conhecimento sobre a presença da China como protagonista na cena econômico-comercial internacional, o embaixador Gazmuri Mujica fala com serenidade sobre a presença chinesa na América Latina e sobre o forte crescimento das relações comerciais entre Pequim e os países da região: “a China é uma economia grande e dinâmica e assistimos a uma importante mudança no modelo de desenvolvimento chinês. O país deve crescer a um ritmo menos acelerado e o crescimento de dois dígitos é coisa do passado. Ainda assim, as transformações em curso na China devem ser vistas como uma grande oportunidade para a América Latina”.


 


Na visão do embaixador chileno, a América Latina –e a América do Sul em particular- têm um grande desafio em suas relações com a China: “não podemos repetir a pauta das relações que tivemos com a Inglaterra no século 19 e com os Estados Unidos no século 20, quando nos contentamos em exportar matérias-primas e importar tecnologia e produtos de maior valor agregado. Mudar esse comércio é o grande desafio a ser enfrentado”.



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